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LSB / PM
No contexto de um mundo crescentemente globalizado, como pode a arquitectura responder aos problemas e desafios dos lugares específicos?
MF
Na Figueira da Foz há já alguns anos que defendo a devolução ao mar da areia retida na principal frente urbana da cidade, para proteger o sul da erosão e, ao norte, devolver o mar à cidade. Foi no surf, numa praia do sul, que senti o primeiro impacto da desregulação da deriva das areias no mar, resultado das obras no porto comercial, que condicionava a qualidade das ondas e ameaçava aquele lugar. Trata-se da praia do Cabedelo onde se estreou no nosso país o circuito mundial de surf e que a interrupção com as restrições ao voo dos americanos, a seguir aos ataques de 11 de setembro, viria a retirar do calendário. O mediatismo do surf voltou mais tarde para se fixar em Peniche, deixando o Cabedelo entregue à sua condição periférica na cidade, à mercê dos danos colaterais das obras portuárias. O debate público só se dedicou ao tema depois de esclarecido que a acumulação de sedimentos que atenta contra a identidade da cidade-praia é parte do mesmo problema que também atenta contra o sul. Seguimos com o debate até aos antípodas, onde a comunidade de surf tem outra expressão e por esse facto os mesmos problemas são tratados de forma diferente. Da Austrália trouxemos a tecnologia do bypass que, ao permitir fazer a transposição mecânica das areias, possibilita a recuperação que defendemos. Por casualidade percebemos que o engenheiro que concebeu o sistema é um católico devoto de ascendência irlandesa e assim, no mês de Maria, depois da visita ao santuário de Fátima, conseguimos trazê-lo para uma reunião com o Dr. Manuel Pinto de Abreu, Secretário de Estado do Mar e obreiro do alargamento da plataforma continental. No início deste ano depois das tempestades que mostraram as fragilidades da nossa estratégia de defesa costeira, o Dr. Jorge Moreira da Silva, Ministro do Ambiente, baseado num relatório solicitado a um conjunto de notáveis especialistas nacionais, anuncia a viragem que pretende implementar a favor da realimentação sedimentar que, não só prevê a transferência de sedimentos na barra da Figueira para proteger o sul, como avança com a urgência da rápida devolução ao mar dos sedimentos retidos na frente da cidade para fazer face à insuficiência de décadas na deriva litoral. Ainda que este processo esteja longe de estar concluído, e que venha a ter outros desenvolvimentos, não parece que fosse possível devolver a viabilidade ao lugar sem o envolvimento da cidade, nem sem a alteração da política de proteção costeira do país ou a experiência que veio do outro lado do mundo. E ainda assim, mesmo com as torres gémeas, o bypass e os três pastorinhos, a sua filiação manter-se-á sempre naquele mar.
Na Figueira da Foz há já alguns anos que defendo a devolução ao mar da areia retida na principal frente urbana da cidade, para proteger o sul da erosão e, ao norte, devolver o mar à cidade. Foi no surf, numa praia do sul, que senti o primeiro impacto da desregulação da deriva das areias no mar, resultado das obras no porto comercial, que condicionava a qualidade das ondas e ameaçava aquele lugar. Trata-se da praia do Cabedelo onde se estreou no nosso país o circuito mundial de surf e que a interrupção com as restrições ao voo dos americanos, a seguir aos ataques de 11 de setembro, viria a retirar do calendário. O mediatismo do surf voltou mais tarde para se fixar em Peniche, deixando o Cabedelo entregue à sua condição periférica na cidade, à mercê dos danos colaterais das obras portuárias. O debate público só se dedicou ao tema depois de esclarecido que a acumulação de sedimentos que atenta contra a identidade da cidade-praia é parte do mesmo problema que também atenta contra o sul. Seguimos com o debate até aos antípodas, onde a comunidade de surf tem outra expressão e por esse facto os mesmos problemas são tratados de forma diferente. Da Austrália trouxemos a tecnologia do bypass que, ao permitir fazer a transposição mecânica das areias, possibilita a recuperação que defendemos. Por casualidade percebemos que o engenheiro que concebeu o sistema é um católico devoto de ascendência irlandesa e assim, no mês de Maria, depois da visita ao santuário de Fátima, conseguimos trazê-lo para uma reunião com o Dr. Manuel Pinto de Abreu, Secretário de Estado do Mar e obreiro do alargamento da plataforma continental. No início deste ano depois das tempestades que mostraram as fragilidades da nossa estratégia de defesa costeira, o Dr. Jorge Moreira da Silva, Ministro do Ambiente, baseado num relatório solicitado a um conjunto de notáveis especialistas nacionais, anuncia a viragem que pretende implementar a favor da realimentação sedimentar que, não só prevê a transferência de sedimentos na barra da Figueira para proteger o sul, como avança com a urgência da rápida devolução ao mar dos sedimentos retidos na frente da cidade para fazer face à insuficiência de décadas na deriva litoral. Ainda que este processo esteja longe de estar concluído, e que venha a ter outros desenvolvimentos, não parece que fosse possível devolver a viabilidade ao lugar sem o envolvimento da cidade, nem sem a alteração da política de proteção costeira do país ou a experiência que veio do outro lado do mundo. E ainda assim, mesmo com as torres gémeas, o bypass e os três pastorinhos, a sua filiação manter-se-á sempre naquele mar.
Julho de 2015
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