Contributo endereçado à Participação no Processo de Consulta Pública da Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 (enm@dgpm.gov.pt). Aqui.
Na Estratégia Nacional para o Mar (ENM) 2013-2020 o surf aparece entalado entre as suas principais ameaças: logo a seguir aos portos e mesmo antes das obras marítimas. Coincidência ou não, reflecte a realidade. Já na associação à náutica de recreio e aos cruzeiros de turismo, acreditamos que o desfasamento com a realidade seja bem mais nefasto à constituição do(s) produto(s). Conforme já tivemos oportunidade de esclarecer nos contributos ao Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) julgamos que aqui se deveriam separar definitivamente as águas: náutica de recreio e surf são produtos completamente distintos. Esta falha denota desde logo a necessidade urgente de aprofundamento sobre as realidades em causa, sob pena de se vir a prestar um mau serviço a ambas. A relação do surf com o mar é directa, a partir da praia como na arte-xávega; a da náutica de recreio é indirecta, a partir de um ancoradouro protegido como nos transportes marítimos. Os primeiros procuram a rebentação, os outros fogem dela.
O surf passou de omisso a confuso no espaço de poucos anos na diversa documentação institucional. Não obstante o facto de também neste documento termos notado a ausência de qualquer referência aos mais de 800Km de costa no continente e de quase uma dúzia de ilhas capazes de garantir condições de surf em 365 dias por ano, é sobretudo na eleição dos factores de competitividade que julgamos poder contribuir para o aprofundamento da ENM. Supostamente por se querer centrar nos factores de competitividade no mercado global o PENT apenas destaca três locais: Ericeira, Peniche e Nazaré. O POOC-OMG vem assinalar a existência de locais de reconhecido interesse internacional para os desportos de ondas, incluindo a Figueira na shortlist que goza de algum consenso na comunidade do surf. A ENM aparentemente recua, distinguindo apenas o caso de Peniche. Um recuo a dois níveis: primeiro porque apenas dintingue um local, e segundo porque abandona o quadro de referência global para se limitar ao do país. Passando de palco de um dos mais importantes eventos de surf no mundo (PENT) a capital da onda (ENM).
Na perspectiva de uma desejável cordenação horizontal e da clarificação na óptica do produto surf, julgamos urgente a clarificação dos factores de competitividade, bem como do quadro de referência respectivo. Assim, avançamos com a proposta centrada na qualidade distintiva das ondas no quadro de referência da Europa, porque estamos do lado da dimensão do valor próprio, não deslocalizável nem porventura refêm de marcas ou eventos, concorrendo a partir do continente onde somos líderes. Desta forma, em vez da segunda reserva de surf no mundo, passamos a ter a primeira na Europa e conseguimos ainda reinvendicar com toda a legitimidade a onda mais tubular, a mais alta e a mais comprida... em 150 km de costa (Ericeira, Peniche, Nazaré e Figueira, respectivamente), alinhando com o conceito da diversidade concentrada (PENT), evitando também a competição das regiões pelo surf, que só pode resultar em prejuízo para o produto e para o recurso que sustenta a oferta, as ondas.
NOTA: Juntámos ao nosso contributo a fotografia do João Bracourt caso surja a opotunidade do surf poder ilustrar a capa em algum dos anexos.
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